sábado, 24 de maio de 2014

Seis Inimigos do Ideal Apologético

Por Douglas Groothuis
Sumário


            O mundo evangélico hoje sofre de uma anemia apologética. Apesar do fato das Santas Escrituras convocarem os Crentes a dar razão da esperança que nós temos em Cristo (1 Pedro 3.15; veja também Judas 3), falta-nos uma voz pública no mercado de ideias para a verdade e a razão.[1] Nós não temos uma presença intelectual forte na cultura popular ou acadêmica (embora algumas áreas, tal como a filosofia, sejam mais influenciadas por evangélicos que por outros). As razões para esta anemia são multidimensionais e complexas.
            Três livros recentes exploram a falta de uma “Mente Cristã” no evangelicalismo contemporâneo, e eu fortemente recomendo tais livros. O livro de Mark Noll, The Scandal of the Evangelical Mind (Eerdmans, 1994), explora as raízes históricas do antiitelectualismo evangélico. O livro Fit Bodies, Fat Minds (Baker Books, 1994), de Os Guinness, discute alguns dos problemas históricos e também esboça o que a mente cristã deve ser. Por fim, o livro Love Your God with all of Your Mind (Navpress, 1997), de J.P. Moreland, explica porque os Cristãos não pensam, não desenvolvem uma teologia bíblica da mente,[2] e oferecem argumentos e estratégias apologéticas úteis para capacitar intelectualmente a igreja.
            Meu modesto propósito neste texto é fornecer brevemente seis fatores que inibem ilegitimamente o compromisso apologético hoje. Se estas barreiras forem removidas, nosso testemunho apologético poderá se transformar naquele que seria de Cristo.

            Muitos cristãos não parecem se importar que o Cristianismo seja rotineiramente ridicularizado como ultrapassado, irracional e tacanho em nossa cultura. Eles podem queixar-se que isto os “ofende” (assim como todo mundo reclama que uma coisa ou outra os “ofendem”), mas eles fazem pouco para combater as acusações por oferecer uma defesa da cosmovisão cristã em uma variedade de ambientes. No entanto, a Escritura ordena que todos os Cristãos têm uma razão para a esperança que está dentro deles e ordena apresentá-la com mansidão e respeito ao incrédulo (1 Pedro 3.15). Nossa atitude deveria ser aquela do Apóstolo Paulo que ficou “muito angustiado” quando viu a sofisticada idolatria em Atenas. Este zelo pela verdade de Deus levou-o a um encontro apologético frutífero com os pensadores reunidos para debater novas ideias (Cf. Atos 17). Deve também ser para nós. Assim como Deus “amou o mundo” e que enviou Jesus para nos reconciliar com Deus (João 3.16), os Discípulos de Jesus também deveriam amar o mundo que eles se esforçam para alcançar os perdidos apresentando-lhes o Evangelho e respondendo objeções à Fé Cristã (João 17.18).

            Para alguns Cristãos, fé significa crer na ausência de evidência ou argumentos. Pior ainda, para alguns fé significa crer apesar da prova em contrário. [Quanto mais] irracionais nossas crenças, melhor – mais “espirituais” elas são. Embora Paulo ensine em 1 Coríntios 1 e 2 que Deus tornou tolice “a sabedoria deste mundo”(porque ela é falsa sabedoria), a Revelação de Deus não é irracional; nem deve a crença nela ser sustentada irracionalmente.[3] Deus não exige de nós a suspensão de nossas faculdades críticas a fim de crer naquilo que tem dado a conhecer. Por meio do profeta Isaías, Deus declara a Israel: “Vinde e arrazoemos”(Isaías 1.18). Jesus nos ordenou a amar a Deus com toda a nossa mente (Mateus 22.37). Quando Cristãos optam pelo irracionalismo, eles apenas se tornam mais uma “opção religiosa” e são classificados ao lado [de religiões] como Heaven’s Gate [Portão do Céu] ou a Flat Earth Society [Sociedade da Terra Plana] e outros grupos intelectualmente deficientes. No rastro do suicido de Heaven’s Gate, as mais importantes revistas como a Esquire, Newsweek e US News and World Report afirmaram que a fé daqueles que acabaram com suas vidas de acordo com a religião da ficção científica Marshall Applewhite não seria estranho para Cristãos que também acreditam em coisas ridículas. Infelizmente, o comportamento de alguns Cristãos dá impulsos a tais acusações.

            Muitos Cristãos não estão conscientes dos enormes recursos intelectuais disponíveis para defender a “fé que uma vez foi dada aos santos”(Judas 3). Isso porque muitas das principais igrejas e organizações paraeclesiásticas praticamente ignoram a Apologética. Um dos principais ministérios no campus [universitário], com uma ótima história e um excelente programa, de qualquer forma não oferece material para auxiliar aos estudantes a lidar com a descrença que emana de seus professores seculares. Poucos sermões evangélicos quase nunca abordam temas sobre as evidências da Existência de Deus, a Ressurreição de Jesus, a Justeza do Inferno, a Supremacia de Cristo ou os problemas lógicos com as visões não-Cristãs. Bestseller Cristãos, com raras exceções, entram em especulações apocalípticas infundadas, exaltam celebridades cristãs (cujos personagens frequentemente não se encaixam com tal notoriedade) e deleitam-se com métodos “faça você mesmo”. Você pode dizer muito sobre um movimento pelo que lê e pelo que não lê.

            Em uma cultura pluralista, uma atitude “viva e deixe viver” é a norma, e ceder a apelos da pressão social assombra o evangelicalismo, drenando as suas convicções. Muitos evangélicos também estão mais preocupados em serem “bacanas” e “tolerantes” do que serem bíblicos ou fiéis ao Evangelho exclusivo encontrado em suas Bíblias. Não basta aos evangélicos estarem dispostos a apresentar e defender sua fé em situações difíceis, seja na escola, trabalho ou ambiente público. A tentação é de privatizar a fé, separá-la e isolá-la inteiramente da vida pública. Sim, somos Cristãos (em nossos corações), mas temos dificuldades de envolver alguém no que cremos e por que cremos. Isto não é nada menos que covardia e traição do que dizemos crer. Considere a exigência inspirada de Paulo para a oração e sua admoestação a nós: “Perseverai em oração, velando nela com ação de graças; orando também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou também preso; para que o manifeste, como me convém falar. Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um”(Colossenses 4.2 – 6).
            Nós podemos esperar rejeição, mas Jesus chama a aqueles que são perseguidos por amor de seu nome de “bem-aventurados”: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós”(Mateus 5.11, 12).
            O Apóstolo Pedro ecoa as palavras de seu Mestre: “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus”(1 Pedro 4.14)
            Por outro lado, quando o Espírito Santo abençoa nossos esforços, as pessoas respondem com interesse e, até mesmo, com fé salvadora (Romanos 1.16). Nunca devemos esquecer que Jesus tem toda autoridade no céu e na terra, e que ele nos comissionou a declarar e defender seu Evangelho (Mateus 28.18 – 20).

            No outro extremo do espectro de erro, está a arrogância do “apologista sabe-tudo” que está mais interessado em mostrar seu arsenal de argumentos do que defender a verdade de maneira piedosa.
O pecado que assedia a apologética é o orgulho intelectual, e deve ser evitado a todo custo. A verdade que defendemos é um dom da graça, não de nossa conquista intelectual. Desenvolvemos nossas habilidades apologéticas para nos santificar na verdade, conquistar almas para Jesus, e glorificar a Deus. Nós devemos “falar a verdade em amor”(Ef. 4.15). Verdade sem amor é arrogância; amor sem verdade é sentimentalismo.[4]
            Arrogância também ocorre quando alguns apologistas acusam outros crentes sem prova suficiente. Paulo disse aos líderes da igreja que eles deveriam esperar heresias no meio da igreja e estarem em guarda contra elas (Atos 20.28 – 31). Deveríamos fazer o mesmo. Todavia, devemos estar atentos para não difamar companheiros Cristãos ou assumir o pior sobre eles. Sei deste erro na própria pele, tendo sido acusado uma vez de ser um adepto da Nova Era porque um crítico horrivelmente interpretou mal uma porção de um de meus livros anti-Nova Era, Unmasking the New Age! Não vamos gastar nossas energias apologéticas atacando outros crentes quando hereges reais e incrédulos clamam por refutação e correção.

            Alguns que ficam animados com apologética podem se tornar contentes com respostas superficiais às questões intelectuais difíceis. Nossa cultura se contenta com respostas rápidas a muitas coisas, e a técnica está dominando. Alguns Cristãos memorizam respostas prontas para questões apologéticas – tais como o problema do mal ou a controvérsia Criação-Evolução – que eles dispensam sem um tratamento adequado das questões e sem uma preocupação empática pela alma que levanta a questão. Uma vez vi um pequeno livro com um título como algo do tipo “The Handy, Dandy Evolution Refuter”. Sim, a macro-evolução é falsa, e bons argumentos têm sido trazidos contra ela, tanto da Natureza, quanto das Escrituras, mas o assunto não é tão simplista como o título do livro faz parecer.[5] Apologética deve ser feita com integridade intelectual.
            O moto apologético de Francis Schaeffer era que deveríamos dar “respostas honestas para questões honestas”. Primeiro, devemos realmente ouvir a questão perguntada ou a objeção levantada. Devemos entrar na mente daqueles que estão apresentando razões para não seguir a Cristo. Cada pessoa é diferente, não importa o quão comum algumas objeções céticas possam parecer. Não reduza as pessoas a clichês.
            Segundo, responda o que você ouviu. Não responda questões que não foram perguntadas. Tal abordagem superficial não vai impressionar o incrédulo que pensa. Se no momento você não pode oferecer uma resposta sólida para a objeção, não tente ocultar sua ignorância ou incapacidade. Honestamente admitir suas limitações é melhor que dar uma resposta fajuta. Fale para a pessoa que este é um bom ponto e que você precisa pensar mais sobre isso. O Cristianismo é absolutamente verdadeiro; mas isto não implica absolutamente que qualquer Cristão possa tratar com toda objeção levantada contra ele. Deveríamos evitar técnicas apologéticas e, em lugar disso, desenvolver recursos intelectuais e cultivar um diálogo real com os descrentes.[6]
            Walter Martins disse corretamente que a igreja evangélica era um gigante adormecido e ele esforçou-se poderosamente para despertar todo o seu potencial dado por Deus para apresentar o Evangelho e defendê-lo contra objeções céticas e cultuais. Com seu legado em mente, possamos reavivar esta visão e encontrar paixão e sabedoria para por em prática por meio do poder do Espírito Santo(Atos. 1.8).

O Dr. Douglas Groothuis (N.T – pronuncia-se Grote–Hice) é um filósofo Cristão, Professor de Filosofia no Denver Seminary. Também é pregador do Evangelho e Escritor. Autor de onze livros, sendo um deles Christian Apologetics – A Comprehensive Case for Biblical Faith (InterVarsity Press, 2011). Suas áreas de especialização em Filosofia são Ética e Cultura Contemporânea, História da Filosofia Moderna e Filosofia da Religião. Especialista em Blaise Pascal, Dr. Groothuis possui muitos outros livros sobre Cultura, Filosofia, Tecnologia e Apologética. Atualmente ele é o responsável pelo programa de Apologética Cristã e Ética no Denver Seminary. Visite seu site: The Constructive Curmudgeon.


Traduzido por Gaspar de Souza.
            Agradeço ao Dr. Groothuis a autorização para tradução desta importante advertência aos apologistas.



[1] Se o autor fala isso de seu contexto, o que diremos de nosso contexto brasileiro? [Nota do Tradutor]
[2] Em compasso com a filosofia da mente, área de interesse do Dr. Moreland, com livros e artigos acadêmicos publicados. [Nota do Tradutor]
[3] Para explicação das passagens bíblicas que, supostamente, ensinam que a fé não é racional, veja J.P. Moreland, Love God With All of Your Mind (Colorado Springs, CO: NavPress, 1997), 57-61.
[4] Sobre isto, veja Douglas Groothuis, "Apologetics, Truth, and Humility," Christian Research Journal (Spring 1992), p. 7.
[5] Para uma forte introdução a este assunto, veja Philip Johnson, Defeating Darwinism by Opening Minds (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1997). Nota do Tradutor: Este livro encontra-se em português, Como Derrotar o Evolucionismo com as Mentes Abertas(Editora Cultura Cristã, 2000).
[6]  Veja Dialogical Apologetics by David Clark (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1993).

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Apologética - A Questão da Taxonomia

            Embora os Apologistas concordem com a definição e objetivos básicos da apologética, eles podem diferir significativamente sobre a metodologia apropriada da apologética. Ou seja, eles discordam sobre como o apologista realiza sua tarefa – acerca de tipos de argumentos que podem e deveriam ser usados e sobre a maneira que o apologista envolve o incrédulo no debate apologético. Para usar uma analogia militar, existem diferenças de opinião sobre a melhor estratégia para usá-la na defesa da fé. Essas diferenças na estratégia apologética geralmente dependem de desacordos mais fundamentais a respeito de importantes assuntos teológicos e filosóficos. E isto me leva à questão da taxonomia.[1]

            Como podemos esboçar as diferentes abordagens à Apologética? De todos os livros de metodologia apologética, nem mesmo dois deles classificam os vários métodos exatamente da mesma maneira. Por exemplo, Gordon Lewis classifica os métodos apologéticos de acordo com suas respectivas epistemologias religiosas.[2]  Ele distingue-os por aquilo que cada uma considera ser a relação correta para aquisição de conhecimento das verdades religiosas. Com base nisso, ele diferencia seis métodos apologéticos.[3]

            A Epistemologia Religiosa pode ser um fator decisivo em distinguir um método apologético de outro. Por exemplo, dois dos métodos distinguidos por Lewis são o Empirismo Puro, defendido por J. Oliver Buswell Jr.[4] e o Racionalismo, defendido por Gordon H. Clark.[5] A metodologia de Buswell requer que façamos observações do mundo e façamos inferências causais a partir dessas observações, que ele acredita vai conduzir o observador objetivo a crer em Deus e na Verdade da fé Cristã. Ele usa os argumentos teístas clássicos e apela às evidências históricas para a ressurreição de Jesus. [Gordon] Clark, por outro lado, repudia o uso de tais argumentos e evidências, em grande parte por razões epistemológicas. Além do mais, ele argumenta que o apologista deve começar com as Escrituras com um primeiro princípio. Ou seja, a Escritura serve como um axioma racional por meio da qual todas as outras reivindicações da verdade são testadas. Clark, então, afirma que o Cristianismo é o único sistema coerente, [e] todas as outras cosmovisões são logicamente inconsistentes. Então, a epistemologia religiosa destes dois apologistas leva-os a diferentes abordagens apologéticas.

            Não há dúvida de que a epistemologia religiosa pode servir para demarcar diferentes métodos apologéticos. Mas, é igualmente evidente que epistemologia religiosa não pode sempre distinguir os métodos apologéticos. Tomemos novamente o Empirismo Puro de Buswell, mas desta vez comparemos com o que Lewis chama Empirismo Racional, atribuído a Stuart C. Hackett.[6] A epistemologia de Buswell segue Locke e Hume, que criam que todo conhecimento surge a partir da experiência. Hackett é um kantiano, que sintetiza racionalismo e empirismo. Como Kant, ele acredita que o conhecimento começa com os dados brutos da experiência, mas que estes dados são organizados e estruturados por categorias a priori da mente.

            Estudantes de epistemologia sabem que estas abordagens do conhecimento são significativamente diferentes, mas as abordagens apologéticas derivadas destas epistemologias, para fins práticos, não diferem.[7] Se compararmos o que Buswell realmente faz por meio de seus argumentos apologéticos, com o que Hackett faz, vamos discernir pouca ou nenhuma variação. Hackett usa os argumentos teístas para estabelecer a verdade da cosmovisão teísta. Ele, então, como Buswell, apela às evidências históricas para estabelecer a ressurreição e divindade de Cristo.

            Assim, novamente, enquanto a epistemologia religiosa seja certamente importante e possa desempenhar um papel importante em distinguir um método apologético de outro, ela não é suficiente (em todo caso) para distinguir um método de outro. Este sentimento é fortemente ecoado por mais de um dos colaboradores deste volume. Gary Harbemas, por exemplo, argumenta que sua abordagem evidencialista da apologética “pode ser favorecida por qualquer dos diversos pontos de vista epistêmicos”(p. 93).

            Bernard Ramm, outro autor que escreveu um livro sobre metodologia apologética, apresenta uma abordagem taxonômica mais promissora à apologética.[8] Ele distingue três famílias de sistemas apologéticos.

1. Sistemas que enfatizam a singularidade da Experiência Cristã da Graça. Ramm descreve várias características distintivas desta abordagem apologética, mas chama a atenção para a ênfase colocada sobre a experiência religiosa subjetiva. A ênfase recai aqui por causa de ênfases correlativas, tanto na transcendência de Deus quanto no efeito noético do pecado. Desde que o pecado cega a mente humana, e desde que Deus é tão diferente dos seres humanos, Deus pode ser conhecido apenas através de alguma experiência supra-racional, talvez até mesmo paradoxal, ou “encontro existencial”. Consequentemente, esta abordagem tem pouco uso para a teologia natural ou evidências cristãs. A “experiência” individual “da religião é tão profunda ou exclusiva ou auto-confirmada que a experiência em si é sua própria prova”.[9] Ramm lista Pascal, Kierkegaard e Brunner como membros desta família.

2. Sistemas que enfatizam a teologia natural como o ponto do qual o apologista começa. Aqueles que seguem esta escola, deposita grande confiança na razão humana para descoberta do conhecimento religioso. Consequentemente, existe menos ênfase no efeito noético do pecado e na transcendência de Deus. As verdades religiosas podem ser conhecidas e verificadas da mesma maneira que proposições científicas podem ser conhecidas e verificadas. Entre aqueles que seguem este método, se encontrará uso extensivo dos argumentos teístas e evidências históricas para demonstrar a verdade do Cristianismo. Aquino, Buswell e Tennant são proponentes tomados por Ramm como paradigma desta abordagem apologética.

3. Sistemas que enfatizam a revelação como fundamento sobre o qual a apologética deve ser construída. Ramm descreve esta abordagem como correspondendo, de certa forma, entre as duas primeiras. Como ele coloca, “a escola revelacional acredita que a primeira escola é subjetivista demais... [e] critica a segunda escola por não avaliar seriamente a depravação do homem”.[10] Em vez de começar com o subjetivismo da experiência religiosa ou o racionalismo da teologia natural, esta terceira escola começa com a verdade objetiva da revelada Palavra de Deus. A razão tem um papel nesta abordagem, mas a razão é fundamentada sobre fé na revelação de Deus e busca entender a revelação de Deus. A razão não pode colocar-se como juiz da revelação de Deus. Esta abordagem põe grande ênfase no efeito noético do pecado, mas talvez não tanto na transcendência de Deus. Deus é capaz de revelar-se em forma proposicional ao ser humano através de uma revelação escrita (i.e, a Bíblia) e pela obra do Espírito Santo é capaz de diminuir os efeitos da cegueira do pecado na mente do crente. Esta escola concentra-se na apologética negativa, embora exista algum uso limitado de argumentos teístas e evidências históricas.[11] Ramm indica Agostinho, Calvino e Kuyper como defensores desta escola apologética.[12]

Traduzido por Gaspar de Souza



[1] In: GUNDRY, Stanley N. ;COWAN, Steven B. Five Views on Apologetics. Zondervan Counterpoints Collection. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2000, p.9 – 12.

[2] Gordon R. Lewis, Testing Christianity’s Truth Claims (Chigago: Moody Press, 1976).

[3]  Os seis métodos/epistemologias são (1) Empirismo Puro, exemplificado no século vinte por J. Ollver Buswell Jr; (2) Empirismo Racional, que Lewis atribui a Stuart C. Hackett; (3) Racionalismo, que, de acordo com Lewis, é a epistemologia e o método de Gordon H. Clark; (4) Absolutismo Bíblico, advogado por Cornelius Van Til; (5) Misticismo, exemplificado pela obra de Earl E. Barret e; (6) Verificacionismo, que é o que Lewis atribui a E.J. Carnell.

[4] Veja o A Christian View of Being and  Knowing (Grand Rapids: Zondervan, 1960), de Buswell.

[5] Algumas obras de Clark incluem A Christian View of Men and Things (Grand Rapids: Eerdmans, 1952) e Three Types of Religious Philosophy(Nutley, N.J: Craig, 1973). Nota do Tradutor: Ambos os livros encontram-se traduzidos para o português, sob os respectivos títulos:  Uma Visão Cristã dos Homens e do Mundo(Brasília, DF: Editora Monergismo, 2013) e Três Tipos de Filosofia Religiosa (Brasília, DF: Editora Monergismo, 2013). Visite o site: www.editoramonergismo.com.br

[6] O método e epistemologia de Hackett podem ser encontrados em The Reconstruction of the Christian Revelation Claim: A Philosophical and Critical Apologetic (Grand Rapids :Baker, 1984)

[7] Este ponto, claro, é baseado na suposição de que metodologia apologética tem algo a ver com a forma como alguém faz apologética.

[8] Bernard Ramm, Varieties of Christian Apologetics (Grand Rapids: Baker, 1961), 14 – 7.

[9] Ibidem, 15.

[10] Ibidem, 16.

[11] De fato, esta Escola não menospreza o uso dos Argumentos Teístas e Evidências Históricas como alguns equivocadamente afirmam. Porém, tais argumentos não são vistos neutramente, mas dentro de uma estrutura epistemologicamente bíblica. Cf. Cornelius Van Til, Christian Theistic Evidences (In Defense of the Faith, vol. 6). Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing, 1978. [Nota do Tradutor]

[12] Em um a edição mais antiga de seu livro (Types of Apologetics Systems[Wheaton: Van Kampen, 1953]), Ramm lista Cornelius Van Til e E.J. Carnell como seguidores desta abordagem.

Nota do Tradutor: Certamente é um equívoco colocar Van Til e Carnell na mesma Escola, e isso a partir do próprio ponto de vista do Dr. Van Til, que embora reconhecesse o valor da obra do Dr. Carnell, o considerava um apologista reformado inconsistente. Diz Van Til: “O falecido Edward John Carnell, autor de An Introduction to Christian Apologetics, e professor de apologética do Fuller Theological Seminary, foi o escritor da série [de artigos no Moody Monthly Magazine]. Os escritos de Carnell estavam entre os melhores dos que apareciam nos círculos evangélicos. De fato, em seu livro sobre apologética, Carnell com frequência argumenta como esperaríamos de um apologista reformado. Contudo, em toda a extensão, ele representa o método arminiano, em vez de o método da apologética reformada”(VAN TIL, Cornelius. O Pastor Reformado e o Pensamento Moderno. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2010, p.44)(grifos meus).