sábado, 12 de maio de 2012

Arqueólogos acham inscrições milenares com idioma desconhecido


Tábua de argila encontrada por pesquisadores na Turquia tem 2.800 anos

Imagem cedida pela Universidade de Cambridge mostra tábua de argila gravada no século VIII a.C. com uma lista de nomes de mulheres desconhecidas, achada na Turquia
Imagem cedida pela Universidade de Cambridge mostra tábua de argila gravada no século VIII a.C. com uma lista de nomes de mulheres desconhecidas, achada na Turquia (Universidade de Cambridge/EFE)
Lishpisibe, Bisinume e Sasime são alguns dos exóticos nomes de mulheres encontrados em uma tábua de argila gravada durante o Império Assírio, há 2.800 anos, e que permitiram conhecer uma língua desconhecida até o momento.

"Sabemos que são nomes de mulheres porque cada um é antecedido pelo símbolo assíriocuneiforme que indica um nome feminino", explicou John MacGinnis, membro da equipe de arqueólogos responsáveis pelo achado e que publicou o resultado de suas pesquisas no último número do Journal of Near Eastern Studies.

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ESCRITA CUNEIFORME
Surgiu no Oriente Médio por uma necessidade de comerciantes de identificar e quantificar os produtos. Em tábuas de argila os mercadores desenham os produtos e faziam marcas com a quantidade. Com o tempo, os desenhos foram substituídos por um código abreviado feitos com uma espécie de caneta de junco que marcava a argila como uma faca. Esse estilo de escrita ganhou o nome de cuneiforme e é a base das três línguas mais antigas do mundo: assíria, babilônica e suméria.
MacGinnis, professor da Universidade de Cambridge (Inglaterra), relatou que a tábua, escavada na jazida de Ziyaret Tepe, no sudeste da Turquia, foi descoberta em 2009 e apresenta uma inscrição no assírio habitual no império.

Mas seu conteúdo é uma surpresa: a lista abrange 60 nomes relacionados com o registro do palácio de Tushan, residência de um governador do Império Assírio no século VIII a.C., e 45 deles têm uma origem diferente de qualquer língua registrada pelos arqueólogos. "Pela morfologia dos nomes é óbvio", acrescentou, "que não correspondem ao assírio nem ao aramaico nem a nenhuma outra linguagem falada no Império Assírio do qual se tenha notícia."

MacGinnis indicou que a lista se refere a um grupo de mulheres oriundas de uma região afastada e transferidas ao império, possivelmente à força, como era frequente naquela época. "Poderiam proceder dos Montes Zagros no Irã", arriscou o professor, já que em outros documentos assírios há uma menção a um idioma chamado "mejranio", que teria sido falado naquela região, então sob domínio assírio, mas do qual não se sabe nada mais.

Língua isolada — "Alguns dos nomes lidos são Lishpisibe, Bisinume, Sasime, Anamkuri, Alaqitapi, Rigahe", explicou MacGinnis, que reconhece não ter pistas sobre o tronco linguístico ao qual poderiam pertencer. "Consultei um especialista e temos certeza de que não é uma língua irania (galho à qual pertence o curdo, falado atualmente na região)", esclareceu.

Seria possível, especulou, que esteja relacionada com alguma das diversas línguas faladas atualmente no Cáucaso e que fazem parte de três troncos linguísticos completamente isolados de qualquer outro idioma. "Agora começa o trabalho dos linguistas modernos que conhecem os idiomas caucásicos e que talvez possam achar alguma relação", disse o especialista.

Luta contra o tempo — Algumas tábuas em assírio são procedentes da antiga cidade escavada na jazida, mas a descoberta em 2009 é a única achada até agora no palácio, embora MacGinnis acredite que o edifício possa abrigar outras peças.

O que não é possível saber ainda é se poderá encontrá-las: parte da jazida ficará submersa quando estiver completa a represa de Ilisu, no rio Tigre, um projeto hidráulico que está há anos em construção e que inundará uma vasta parte do vale fluvial. "Estamos trabalhando contra o tempo porque nos restam apenas duas temporadas: o governo turco nos confirmou que podemos continuar trabalhando este ano e no ano que vem, mas depois já não renovarão a permissão", lamentou o professor.

A construção da represa, que inundará também o famoso povoado histórico de Hasankeyf e outras jazidas, foi atrasada em parte devido aos protestos internacionais, mas MacGinnis acredita que o governo turco está decidido a completá-la em breve, por isso que quer pôr fim aos trabalhos arqueológicos na região.

A tábua está conservada no museu de Diyarbakir, capital da província turca à qual pertence Ziyaret Tepe.

Fonte: Veja Online

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