quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

33 mil jovens sem chegar aos 19 anos


Estudo do governo mostra que no período entre 2007 e 2013 o país perderá 4,7 mil adolescentes ao ano por assassinato

A passagem da infância para a adolescência carrega um monte de significados, quase sempre associados a ideais rebeldes, descobertas afetivas e necessidade de autoafirmação. Mas nem tudo é tão romântico. No Brasil, deixar de ser criança representa também o risco de morrer violentamente. Estudo apresentado ontem pelo governo federal aponta que 33 mil meninos e meninas entre 12 e 18 anos serão assassinados em um período de sete anos. Para se ter uma ideia, a média de 4,7 mil vidas perdidas anualmente é o dobro das 2 mil vítimas fatais da pandêmica gripe suína em 2009 no país. Equivaleria também à queda de 30 aviões, semelhantes ao Boeing da Gol que caiu em 2006, todos lotados de adolescentes. O Nordeste aparece como a região mais problemática, com oito cidades entre as 20 que exibem o maior Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) - ferramenta elaborada há três anos cujo objetivo é medir o fenômeno da violência letal nessa faixa etária. Pernambuco tem quatro cidades entre as mais perigosas.


Foto: Juliana Leitão/DP/D.A Press - 22/7/10
Desenvolvido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos e parceiros, o IHA divulgado ontem utilizou dados de mortalidade de 2007, base mais atualizada do Ministério da Saúde. Por isso, as estimativas se referem ao período que vai daquele ano a 2013, fechando a lacuna de sete anos, caso as condições sociais não mudem. Para um dos pesquisadores do projeto, o sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), a ´grande surpresa` foi o Nordeste. ´A região nunca esteve entre as mais violentas`, diz o especialista. As regiões metropolitanas de Recife, Salvador e Maceió puxam a estimativa de mortes para cima.


Foto: Bernardo Dantas/Esp. Aqui PE/ D.A Press - 19/5/10
Apesar das novidades em relação às outras duas edições do IHA, a cidade de Foz do Iguaçu manteve a dianteira no ranking de municípios onde mais adolescentes são assassinados. Secretário municipal de Segurança Pública, o policial federal Adão Almeida ressalta que a violência local está associada ao contrabando e ao tráfico de drogas. A fronteira tríplice de Foz do Iguaçu, com Brasil, Argentina e Paraguai, segundo Almeida, dificulta a ação do poder público para diminuir as mortes em geral, inclusive de adolescentes. ´Temos, no máximo, mil agentes para fazer a vigilância da fronteira. Seria necessário triplicar esse número para um trabalho melhor`, diz. ´Sou cético em relação a isso. O problema não é a pobreza, mas sim o uso de drogas, e aqui é a porta de entrada`, diz.

Para Carmen de Oliveira, subsecretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, as condições de acesso aos serviços básicos que o Estado deveria oferecer a todos os cidadãos, principalmente a educação, fazem toda a diferença na trajetória de vida do adolescente. ´O pico da evasão escolar é o momento do assassinato e também o pico da internação para cumprimento de medidas socioeducaticas. Garantir uma escola de qualidade me parece ser fundamental`, afirma. Entre fatores de risco no estudo estão cor, gênero e meios utilizados. Meninos têm 12 vezes mais chances de serem assassinados. Os negros correm risco quatro vezes maior. E a chance de morrer por arma de fogo é seis vezes superior às outras formas.

Casimira Benge, do Programa de Proteção à Infância das Nações Unidas para a Infância (Unicef), sugere que o tema do racismo seja trabalhado nas salas de aula, no esporte, na cultura. Ela lembra que das 530 mil crianças de 7 a 14 anos fora da escola, 330 mil são negras. ´Precisamos de políticas específicas para garantir que as crianças salvas da mortalidade infantil não acabem morrendo na adolescência`, diz. (Renata Mariz)

"Precisamos de políticas para garantir que as crianças salvas da mortalidade infantil não sejam assassinadas" Casimira Benge, do Programa de Proteção à Infância da Unicef

Fonte: Diário de Pernambuco

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